Quinta semana de isolamento social pela quarentena em função da pandemia do coronavirus (covid 19). Relatos do dia a dia de como está sendo a experiência, sem precedentes, em minha vida.
Nesta semana tenho notado, nas visões mais analíticas da situação, que “voltar ao normal” é impossível, tudo vai mudar. O “normal” vai ser bem diferente do que estávamos acostumados, esse tem sido o novo sentimento. Quanto antes as pessoas conseguirem absorver que um novo cenário está por vir, menos dolorosa serão suas adaptações.
Na economia, a bolsa brasileira perdeu quase 50% da máxima histórica atingida em 22 de janeiro de 2020, com 119.535 pontos, ao que foi o “fundo do poço” até agora, em 23 de março, com 63.596. Hoje, dia 16 de abril está na oscilando entre 78 e 80.000 pontos, recuperação de 25% em relação à mínima, perda de 33% em relação à máxima. A bolsa americana NASDAQ, como parâmetro, perdeu menos 30% desde o topo de 9.817 de 19 de janeiro de 2020, até o fundo de 6.860, do qual já recuperou pouco mais que 20% oscilando agora na faixa dos 8.400.
As expectativas, que são refletidas nesses números, são de uma desaceleração econômica sem precedentes no mundo contemporâneo, fazendo a crise da bolha imobiliária (subprimes), de 2008, parecer branda, estando sendo comparada ao crash de 1929. É provável que mesmo essa crise seja considerada de menor escala que a atual, tudo vai depender do desenrolar dos fatos positivos e negativos, dos avanços científicos das pesquisas para o combate da pandemia ao comportamento do vírus em relação às medidas de isolamento e posterior abertura, passando pela reação da sociedade em relação à crise como um todo, há inúmeras variáveis em aberto.
Os negócios encaram a paralisação e desaceleração de diversos segmentos de empresas, está claro que estamos entrando em uma recessão mundial profunda. Há, porém, alguns poucos ramos de atividade que tendem a acelerar, como por exemplo, tecnologia, e-commerce e logística. Exemplo, a Amazon, que agrega essas três atividades debaixo do mesmo negócio. Suas ações, que caíram “apenas” 15% entre o pico em US$2.170, dia 19 de fevereiro, e o fundo com US$1.676 em 12 de março, hoje chegaram a bater US$2.470.
O varejo, fortemente impactado negativamente, tem suas excessões, como o setor de supermercados, que vêm experimentando alta nas vendas, de acordo com estudo recente divulgado pela Cielo. Segundo o estudo que compara o período de 01 de março de 2020 até 11 de abril de 2020 com período equivalente em fevereiro de 2020, desconsiderando dias atípicos como carnaval e Páscoa. Provavelmente reflexo do comportamento das pessoas que estão em casa, que deixaram de consumir na rua, passaram a comprar mais.
Os segmentos mais atingidos são os de serviços de lazer, como bares e restaurantes que estão fechados em função da quarentena, contando exclusivamente com os serviços de entregas e o de viagens, talvez o mais fortemente atingido pelo fechamento de países e estados, além do medo do contágio.
Socialmente os impactos são sentidos de formas bastante distintas, algumas pessoas, que dependem de seus pequenos comércios, agora fechados, para sobreviver amargam momentos de extrema dificuldade e sofrimento, de acordo com o que vêm sendo compartilhado nas redes sociais. Desde apelos para atrair clientes pelo sistema de delivery, até cervejarias ajudando com promoções incentivadas, vale tudo para ajudar . Para profissionais empregados em empresas mais estruturadas, que atualmente estão home office, há o aspecto psicológico da mudança do local de trabalho e a incerteza quanto ao dia de amanhã, mas a mesa continua igualmente abastecida. Quanto menor e mais informais, mais rápido estão sentindo os efeitos do isolamento social.
Porém, pode haver um efeito opostamente inverso nessa situação, considerando o médio/longo prazos, uma vez que as empresas maiores podem tomar decisões estratégicas que alteram como o trabalho será realizado em função da redução de custos que esta nova maneira de funcionar proporcione. Há também o medo do risco da eliminação de cargos. Quando “o time está ganhando” há pouco incentivo para se repensar o negócio como um todo, mas quando há um revés contundente na situação do jogo, mudanças se fazem fundamentais para a sobrevivência do negócio.
Os nervos à flor da pelo são notados a cada anúncio do governo Bolsonaro quando as pessoas vão às janelas bater panelas, nas regiões de classe média das metrópoles do Brasil.
A política, no Brasil, estávamos com uma diminuição da disputa entre os que apoiam a visão de Bolsonaro de que devemos “voltar a vida normal” e os que acreditam que devemos seguir com o isolamento social, já que o presidente passou alguns dias sem se manifestar. Vale registrar que os países que vêm abrindo a política de isolamento e em alguns casos, como a Itália e a China, o lockdown, tiveram sucesso com tais medidas. No Brasil os casos confirmados e óbitos vêm aumentando de forma exponencial nas últimas semanas. De acordo com as previsões atuais, o Brasil deve atingir o pico dos casos na primeira quinzena de Maio.
Atualmente há mais dúvidas do que conclusões sobre o que está por acontecer. Há inúmeras variáveis que ainda estão por ser definidas, como o comportamento do vírus, a efetividade das vacinas que estão em desenvolvimento, quando e como serão disponibilizadas, entre outra. Há dúvidas, por exemplo, se uma pessoa pode ser infectada duas vezes, há registros que indicam que sim. Só essa variável impacta radicalmente no que está por vir.
O objetivo deste artigo é registrar, com um ponto de vista analítico, que busca imparcialidade, o cotidiano sob isolamento social pela quarentena imposta pelo coronavirus (covid 19). Desta forma, gerações futuras vão poder saber como está sendo, o que vem acontecendo e os sentimentos envolvidos nessa experiência sem precedentes na vida contemporânea.